Novos
tempos com novos desafios pastorais despontam no horizonte, que exigem tomada
de consciência e novos modos de agir.
O mundo está vivendo uma ebulição,
não só no campo da política como também no campo religioso. Prova disso é o
Sínodo Extraordinário que tem a coragem de tocar em problemas antes escondidos.
Tudo está sendo colocado em xeque e quase sempre não se sabe para onde ir. Não
se tem clareza de onde se quer chegar. Essa incerteza, de certo modo, é válida
porque nos desafia a ser criativos. O grande problema é que na incerteza do
novo se tem a tendência em se refugiar no passado-ultrapassado (desculpem a
redundância), porque nos dá segurança. “Deixem que os mortos enterrem os seus
mortos”, disse Jesus (Lc 9,60)
Permaneçamos no interno da Igreja,
já que o espaço não nos permite alargar os horizontes. Com o Concílio Vaticano
II, a Igreja passa da compreensão de si como “Sociedade Perfeita” – uma
pirâmide na qual o clero estava no topo,
por considerar-se mais digno – a uma consciência de si como “Povo de
Deus” (cf. LG 9).
Esta compreensão é a grande
revolução do Vaticano II. Passou-se de uma visão clericalista piramidal de
Igreja a uma visão circular de mistério e comunhão (LG), onde todos têm igual
dignidade. O clero passa a ser compreendido como um serviço e não mais como um
privilégio. E este com os leigos formam esse povo escolhido e amado de Deus,
onde encontramos carismas e dons diferentes, e todos postos a serviço do bem
comum (LG 11, 12, 13).
Isso exige repensar toda a Igreja,
seu ser e seu agir. Pensa-se em uma comum-unidade, onde cada um exerce sua
função em vista da edificação desse Povo de Deus.
Entretanto, esta questão foi sendo
deixada de lado, só foi assumida por uma parcela do clero. Muitos não aceitaram e se levantaram
contra esta orientação, como foi o caso dos lefevrianos, que acabaram
excomungados e, portanto, fora da Igreja,
e de alguns movimentos conservadores no interior da Igreja Católica,
capitaneados por autoridades que defendem e buscam uma volta ao passado. Vemos
isso pelo mundo afora e também no Brasil. O tradicionalismo católico teve suas
principais expressões na Tradição, Família e Propriedade (TFP), na Associação
Cultural Montfort e nos Arautos do Evangelho, para citar as mais explícitas.
Mas há toda uma orquestração por aqui, que se manifesta no retorno da missa em
latim segundo o missal tridentino, revalorização da adoração do Santíssimo,
defesa de que a comunhão deve ser na boca e de joelhos. Isso tudo como sinal de
distanciamento das determinações do Vaticano II, interpretado como uma ruptura
com a tradição católica. Esta influência vai penetrando dentro da Igreja,
condicionando escolhas pastorais, formação dos futuros sacerdotes e na difusão
de atitudes religiosas que alimentam um individualismo exasperado.
Em meio a esses fatos, é eleito o
Papa Francisco, que, com sabedoria, carisma e simplicidade, questiona o
afastamento da Igreja dos pobres. “Eis o que nos espera! E eis, então, quem é a
Igreja: é o povo de Deus que segue o Senhor Jesus e que se prepara dia após dia
para o encontro com Ele...”
Rezemos para que o nosso querido
Papa consiga imprimir esse modelo de Igreja que o Concílio nos brindou e que
hoje sua retomada se faz urgente em todos os recantos.
Pe. Sérgio Silva
Coordenador Diocesano de Catequese
DIOCESE DE NOVO HAMBURGO
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